Você já ouviu o termo Third Culture Kids (TCK) ou crianças de terceira cultura? As crianças de terceira cultura são aquelas que viveram parte da sua infância fora do país de origem de seus pais. Pode ser, também, crianças que tenham a mãe com uma nacionalidade e o pai com outra nacionalidade.
Apesar do nome se referir às crianças, os adultos também podem ser chamados de crianças de terceira cultura, uma vez que a infância foi marcada por essa diversidade cultural.
O tema TCK ainda não é muito difundido, mas pensando no Brasil com toda a sua diversidade cultural, é muito provável que haja muitas TCKs. Como é o meu caso e pode ser o seu caso também!
A minha história como TCK
Apesar de ser nascida no Brasil, nunca me senti, de fato, brasileira. Por muitos anos me questionei por que eu era diferente dos meus amiguinhos. Por muitos anos, não me senti pertencente a um lugar, afinal de contas, eu era a “japa” ou “japinha” no Brasil e, muito provavelmente, se eu fosse ao Japão, seria vista como estrangeira.
Foi na adolescência que aprendi a gostar de ser diferente e a dar mais valor às coisas boas que isso me trazia. Mas foi só quando comecei a estudar sobre Psicologia Intercultural que entendi o que eu senti a vida inteira. Foi quando entrei em contato com estudos relacionados às crianças de terceira cultura e me encontrei.
Como é ser uma criança de terceira cultura?
Quando morava na Espanha não senti tanto o efeito dessa pergunta, pois quando falava que era brasileira, eles me perguntavam a minha descendência, o que para mim é normal, pois passei minha vida inteira tendo que responder essa pergunta mesmo no Brasil.
No entanto, aqui na Bélgica, quando falo que sou brasileira, geralmente as pessoas me perguntam de onde sou “de verdade”. Eu entendo que eles queiram me perguntar sobre a minha descendência, mas confesso que o “de verdade” mexe um pouco comigo.
Por outro lado, se para mim, que tenho que lidar apenas com duas nacionalidades, já é um pouco complexo, imagine responder a simples pergunta “de onde você é?” para uma pessoa que, por exemplo, nasceu nos EUA, o pai é australiano, a mãe é coreana, logo nos primeiros meses de vida foi morar na Espanha, onde passou a infância e parte da adolescência e foi onde aprendeu a se comportar segundo as normas culturais, depois morou alguns anos no Brasil, Chile e Índia. Inclusive, se você quiser assistir um vídeo com jovens TCKs para entender um pouco melhor sobre o efeito dessa pergunta, clique aqui. Essa pergunta simples ganha uma complexidade enorme!
As crianças de terceira cultura costumam sentir como se estivessem em um limbo, pois sentem que não pertencem a lugar nenhum e ao mesmo tempo, pertencem a todos os lugares, e isso pode levar a alguns questionamentos sobre quem elas são.
Se você mora fora do Brasil e tem filhos, eles são crianças de terceira cultura e é importante cuidar do psicológico e emocional para que eles cresçam enxergando essa diversidade cultural na vida deles como algo bom, apesar das penas a serem carregadas.
Meu filho é uma criança de terceira cultura, o que fazer?
Ser uma criança de terceira cultura é um desafio cada vez mais comum no mundo tão globalizado que vivemos. Assim como tudo na vida, tem as suas vantagens e as suas desvantagens.
Crescer com toda essa bagagem pode ser ruim ou maravilhoso, vai depender como a criança vai internalizar e viver toda essa experiência, e nós como pais, podemos ajudá-la a enxergar com bons olhos. Para isso, seguem algumas dicas:
– Converse e encoraje seu filho a conversar sobre o seu dia a dia, sem fazer julgamentos ou avaliações
– Evite falar o que o seu filho deveria ter feito em determinada situação ou o que ele deve fazer. Estimule que ele pense opções de soluções junto com você
– Apoie seus sentimentos e deixe-o sentir, mesmo que seja difícil para você vê-lo chorar e sofrer. Faz parte do luto migratório
– Dê oportunidades para que o seu filho brinque com as crianças do país hospedeiro e tente conversar com os pais dos amiguinhos dele
– Fale o quanto é difícil para você também se adaptar a novas culturas
– Não tenha medo de falar do que vocês já viveram e das pessoas que ficaram. Foram parte importante da história de vida de vocês
– Tenha em mente que cada pessoa é uma pessoa e reage de formas diferentes às situações. Respeite, acolha e aceite a forma com que o seu filho está passando por essa experiência e faça o mesmo com você.
Assim você estará o ajudando a ser um cidadão do mundo com toda a beleza que essa oportunidade pode proporcionar!
Psicoterapeuta e Especialista em Desenvolvimento de Líderes, graduada em Psicologia. Curitibana, morou na Espanha e atualmente mora na Bélgica. Experiência de 15 anos no mundo corporativo, a maior parte deles, na área de Gestão de Pessoas. Atualmente ajuda líderes brasileiros a se desenvolverem em suas carreiras, e brasileiros que estão no exterior a se reencontrarem através da psicoterapia.
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