As nossas decisões desde muito cedo traçam o desenho do nosso destino, fato vivido e comprovado pela Silvia. Ao decidir por um incomum intercambio à Índia com apenas 17 anos não sabia, mas intuía, que lá estava o começo de muitos sonhos repletos de amor e desafios.
Depois de um ano em Mumbai voltou ao Brasil e deu asas aos projetos audaciosos de felicidade, incluindo casamento com o namorado indiano e a expatriação para os Emirados Árabes!
Pois é, a vida tem encruzilhadas e nossas escolhas fazem o mapa da nossa trajetória pelo mundo. Se quiser saber um pouco mais sobre isso te convidamos a ler a nossa entrevista.
Boa leitura!
1-Quem é a Silvia?
Meu nome é Silvia Canguçu Panchal e tenho 40 anos. Sou de Arapongas, interior do Paraná com muito orgulho.
Aos 17 anos meus pais me deixaram fazer intercambio pelo Rotary, e tive a ideia mais maluca e feliz de escolher a Índia, como país de destino. Fiquei um ano em Mumbai (antiga Bombaim) e, certamente, tive um período muito rico em experiências. A melhor de todas foi ter conhecido o meu marido, Jay! O Jay já tinha morado no Brasil quando eu o conheci, também fez intercambio do Rotary, em São Jose dos Campos, São Paulo, mas nós só nos conhecemos na Índia.
Voltei para o Brasil e depois de um tempo o Jay veio também. Enquanto eu me formava em Jornalismo em Santa Catarina o Jay se formou em Economia, na Índia. Em 2003 noivamos e casamos em 2005. Em 2006 mudamos para Dubai. Ele veio transferido pela Perdigão e eu vim contratada pela Emirates, para trabalhar de comissária de bordo.
Eu continuo na Emirates, sou chefe de voo e também instrutora de serviços de bordo. O Jay e eu temos um filho lindo, o Noah, que esta com 6 anos.
2- Em que momento você decidiu deixar o Brasil e o que motivou essa decisão?
Eu amo o Brasil e nunca planejei me mudar definitivamente. Deixamos o Brasil porque surgiram oportunidades que agarramos, na época sem pensar muito, bem aventureiros. Nos tornamos cidadãos do mundo, mas nós dois somos patriotas e temos as essências das nossas raízes. O Jay com a Índia e eu com o Brasil. Na época que mudamos para Dubai ninguém no Brasil tinha ouvido falar dos Emirados Árabes, mas o Jay, como indiano, tinha e sabia que aqui era um lugar muito promissor para começarmos nossa vida à dois. Eu não pensei muito. Ou seja, aceitei logo o desafio.
3- Como comissária de bordo você teve oportunidade de “viver o sonho” de muitas pessoas: conhecer o mundo! Como foi isso?
Eu já tinha começado a conhecer o mundo bem antes de ser comissária, com o intercâmbio. Além de viajar para a Índia e Europa, por outro lado também conheci intercambistas do mundo todo.
Quando me formei em jornalismo, meu sonho era ser uma jornalista internacional. Não tinha sonho de ser comissária, mas aconteceu e eu sou muito agradecida a essa oportunidade. Sim, tem sido fantástico conhecer o mundo, mas esta longe de ser um trabalho fácil de só viajar. A gente trabalha de madrugada, de fim de semana, feriado, e as vezes nas pernoites a gente tem que se esforçar muito para sair da cama do hotel e conhecer um pouco a cidade onde estamos. A perspectiva de dentro é diferente.
Em 2006, quando fui contratada a Emirates ainda não voava para o Brasil e era pouco conhecida por lá. Minha cunhada já era comissária no Golfo e comentou sobre a empresa pra mim e da sua vontade de trabalhar para eles. Então eu me interessei e preenchi um formulário online. Meses depois me chamaram para participar de uma seleção em São Paulo. Fiz, passei e em um mês eu e o Jay concordamos em aceitar esse desafio. Foi uma oportunidade que não deixamos passar.
A experiência que temos e a chance de passá-la para o Noah, nosso filho, tem sido muito gratificante, enriquecedora e que vamos levar para sempre com a gente.
4- Qual o país que mais te marcou? O que te emocionou e surpreendeu? Algum lugar que não voltaria?
Essa resposta tem que ser a Índia. Já rodei todos os continentes e cada um tem seu país ou cidade preferida, mas toda vez que vou pra Índia, pareço uma turista, porque vejo e sinto cheiro de coisas diferentes. Não tenho um país preferido, gosto da comida da Ásia, me identifico muito com o povo na África, amo andar pelas ruelas antigas da Europa e tomar um vinho ou um café nos calçadões de lá, e por ai vai, cada canto com um detalhe único e apaixonante.
5- O trabalho na aviação traz muitos desafios: horários incomuns, longos voos, a rotina vira quase uma “não rotina”. Como conciliar a vida pessoal com esta realidade?
Conciliar o trabalho de comissária com minha vida pessoal é meu maior desafio, todos os dia, principalmente depois de ter filho. Fico ansiosa todos os meses esperando pela minha escala, e quando vem já tento organizar os dias que posso levar e buscar o Noah na escola, os fins de semana que tenho de folga para estar com a família e participar dos churrascos e aniversários dos amigos. Muitas vezes me frustro mas ainda assim os benefícios do trabalho sobrepõe as dificuldades, por isso estou há 15 anos aqui.
6- Durante todos esses anos como cabin crew supervisor você provavelmente presenciou situações inusitadas em relação a bagagens na cabine do avião. Lembra de alguma em especial?
Sobre bagagem não tenho muitas histórias inusitadas não, mas nesse lado do mundo é comum ver passageiros entrando no avião com latas gigantes de Tang(o suco em pó) na cabeça, literalmente, já que por serem muito grandes não caberiam na mala de mão. Passageiros simples de pequenos vilarejos de Bangladesh ou Paquistão, ou que não tem acesso as cidades maiores para comprar essas coisas ou acham aqui bem mais barato. Mas, é interessante ver tantos deles trazendo isso como bagagem de mão compradas no duty free. Suco Tang e leite Ninho são vendidos em latas gigantes.
Outro fato bem peculiar, mas ao mesmo tempo comum aqui , é termos o pássaro falcão como passageiro. Os árabes os criam para competições e viajam à muitos países vizinhos com esses “passageirinhos” de asas.
7- Quais as dicas para nossas leitoras sobre o que levar em viagens curtas?
Aqui vai ser “faça o que eu falo e não o que eu faço”, porque até hoje não consigo viajar “leve”. Eu gosto de levar opções de roupa, gosto de estar prevenida com lanchinhos para a viagem, gosto de levar presentes, então sempre estou sobrecarregada. O meu conselho é leve somente os quilos permitidos pela companhia aérea pra evitar ter que pagar excesso ou deixar coisas para trás. E carregue apenas o que você literalmente consegue “carregar”, sem depender da ajuda de comissários por exemplo. Muito injusto esperar que a gente ajude todo mundo com suas bagagens todos os dias do nosso trabalho, somos reais e sofremos com dores nas costas também.
8- Quando uma mulher está expatriando e levando apenas a bagagem daquele voo, quais as melhores opções? Despachar antes? Comprar mala extra online ?
A mulher que está expatriando só com a bagagem, deve levar apenas o essencial e começar uma vida nova no lugar que ela esta indo. Sem apegos e mais aberta a comprar coisas típicas no país que ela agora vai chamar de casa.
Certamente essa atitude já vai ajudar a adaptação.
Eu aos poucos trouxe meus álbuns de foto, e alguns objetos que eu estimava muito. No começo só trouxe roupas. Somos doidos com a comida brasileira né? Minha mala sempre tem café do Brasil e farofa, por exemplo, mas quando acaba e não tenho voo para o Brasil, sei viver sem e vivo bem, com o que consigo achar aqui. Sem sofrer.
Aos poucos a gente se identifica com as coisas do país que nos acolhe e claro nas oportunidades estoca sua cozinha com os essenciais do Brasil. O segredo é ficar contente quando tem e continuar bem quando acabar. Eu sempre compro uma mala extra para fazer meu voo domestico da volta de Dubai, uma mala é só para supermercado. Prefiro comprar junto com a passagem. Deixar para fazer isso na hora do check in pode ser mais caro e mais estressante. A viagem já é tão longa, gosto de me organizar para fazê-la bem tranquilamente.
9- Voar “vicia” ?
Vicia. Parece que estamos acorrentados. Mas a corrente é de ouro. Penso que é muito difícil se adaptar em outro trabalho. O trabalho de comissária também é um estilo de vida. Então trocar também significa trocar de vida, fazer tudo de um jeito diferente. Não imagino que isso seja fácil. Mas não poder voar na pandemia, por um lado foi uma benção. Estar com a minha família por meses, dormindo a noite todos os dias, fazendo as refeições juntos e sem me preocupar em ter que me ausentar para descansar para um voo, ou de um voo, foi libertador. Senti mais por não poder estar com a família no Brasil num momento que precisamos muito estar juntos por conta de uma perda trágica que tivemos na família.
10- Qual o conselho que você daria para quem quisesse sair do Brasil agora e trabalhar como comissária de bordo?
A Emirates esta contratando no momento, então tenho recebido perguntas assim com frequência. Para alguém que esteja interessado em se tornar comissário, o mais importante aqui, é a comunicação. Falar inglês é básico e essencial. Outras línguas são requisitos adicionais que podem contar no final. O candidato tem que demonstrar que gosta de pessoas, de lidar com gente e de servir. Ter boa postura e uma linguagem corporal aberta e disposta a ajudar as pessoas.
Se você tem a oportunidade de ir por um tempo a qualquer lugar do mundo, agarre e vá. No meu intercambio eu vivi 10 anos em 1.
Conhecer outras línguas, culturas , pessoas , e muito enriquecedor. Te faz olhar o mundo com outros olhos. De uma maneira melhor e mais evoluída.
@silviacangucupanchal
Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é ” Vida Linda e Abençoada ! “
Respostas de 2
Silvia uma pessoa incrível! Profissional ímpar!!
Certamente concordamos contigo e foi uma honra entrevistar a Silvia.