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Terremotos no Peru: vivendo no ritmo da Terra

Última atualização do post:

terremotos no peru
Terremoto na terra - foto credito pixabay

Escrevo esse texto um dia depois de um tremor sentido aqui na região de Lima, de magnitude 5.5 na escala Richter (tecnicamente considerado “um pouco forte”). No prédio onde moramos sentimos uma sacudida forte e prolongada. Felizmente não tivemos nenhum dano material nem pessoal, mas é difícil não sentir uma onda de stress mesmo depois de algumas horas do ocorrido. É uma mistura de “E se…?” com “Será que ainda vem mais um hoje?” (um tremor mais forte pode ou não ser seguido por outros mais brandos).

Tremor ou sismo são os eventos sísmicos que não causam danos materiais perceptíveis e/ou para a vida humana, independente da intensidade. Se há danos, classifica-se como terremoto.

Antes de vir morar no Peru, eu nunca tinha passado por nenhum sismo ou terremoto. Enchentes e alagamentos, sim. Como paulistana, já passei por alguns perrengues por conta de chuvas fortes na minha terra, mas ver o chão que eu piso chacoalhar, a primeira vez foi vivendo em Lima.

Se eu sabia que aqui tinha tremores? Vagamente. Na minha memória, Chile e México eram os países latinos que eu me lembrava de notícias sobre terremotos, contudo não sabia ao certo como era no Peru.

Meu primeiro tremor

O primeiro sismo que senti foi poucas semanas depois de chegar em Lima. Estava no sofá vendo TV com o meu marido e ele me chamou a atenção “Você sentiu? Acabou de acontecer um sismo”. Tinha sido tão leve e rápido que eu achei que ele tinha se mexido no sofá e por isso eu tinha sentido um movimento!

Nos meses seguintes, o fenômeno se tornou assíduo: uma vez por mês eu sentia um leve tremor rápido. Sabe quando você sente a janela da sua casa tremer logo que um caminhão pesado passa pela sua rua? Era parecido.

A explicação é que o Peru faz parte do Círculo (ou Anel) de Fogo do Pacífico, uma região em forma de ferradura que abrange diversos países da Ásia, Oceania e Américas banhados pelo Oceano Pacífico. Ali, há uma alta concentração de vulcões e também onde há grande atrito das placas tectônicas. Como resultado, aproximadamente 90% da atividade sísmica mundial está concentrada nessa região.

A verdade é que há tremores todos os dias por aqui, mas nem todos são perceptíveis. E a intensidade sentida também depende de quão longe você está do epicentro dele e de quão longe você está no chão (ou seja, em um edifício, andares mais altos sentem chacoalhar mais do que os andares mais baixos).

Quando o tremor virou temor

Depois de alguns meses vivendo aqui, na véspera da minha primeira viagem de volta ao Brasil, tivemos um tremor mais intenso, de magnitude 6.0. Além de forte, ele foi longo. Cada segundo parece uma eternidade quando se vê tudo chacoalhando ao seu redor, pois você não sabe quanto tempo vai durar, se vai piorar, se o melhor é sair de casa ou não… Nós morávamos no sexto andar e sentimos bastante. Nesse dia, o melhor que conseguimos fazer foi nos reunirmos no chão da sala, sem móveis por perto e próximos à porta e esperarmos juntinhos o tremor passar.

Por ter acontecido à noite, no dia seguinte fui dormir achando que tudo ia começar a tremer a qualquer momento, apesar de estar no Brasil. Dias depois, já de volta à Lima, comecei a ter episódios de insônia, pensando que o teto poderia ruir sobre a minha cabeça a qualquer momento.

Há instrumentos para prever chuvas, ventos e nevascas, mas ainda não se consegue prever quando um terremoto vai acontecer. Quando se consegue, são apenas poucos segundos antes de ocorrer e essa tecnologia ainda não está disponível no Peru. Então, o melhor remédio é a prevenção e a informação. Saber como agir, se preparar para esse tipo de situação e ter a informação correta me acalmou bastante. Hoje lido melhor com a presença desses fenômenos na minha rotina.

Inspecione sua casa

Observe se existem pontos vulneráveis na sua casa, ou seja, coisas que poderiam causar acidentes em caso de sismo:

  • TV ou quadros mal presos na parede.
  • Livros, objetos decorativos e vasos de plantas que possam estar muito perto da borda de um móvel.
  • Objetos muito pesados armazenados em lugares altos. Sempre que possível, armazene-os mais próximo ao chão.
  • Portas que trancam só de um lado e portanto podem ser difíceis de abrir em uma emergência.

Identifique e mapeie pontos seguros de cada cômodo da casa, longe de janelas, estantes e objetos soltos (como luminárias de piso), pois é importante que todos os moradores da casa conheçam os pontos seguros.

Tenha sua mochila de emergência

A mochila de emergência serve para, em caso de evacuação da moradia, suprir as necessidades de todos os moradores da casa pelas primeiras 24 horas. Por isso, ela deve conter o essencial, estar próxima da porta de saída e ser fácil de transportar.

O que não pode faltar:

  • Artigos de higiene: álcool gel, papel higiênico, lenços umedecidos, absorvente feminino, toalha
  • Primeiros socorros: algodão, gaze, antisséptico
  • Bebidas e alimentos não perecíveis: água engarrafada, comida enlatada (ex: atum)
  • Roupa: muda de roupa e de roupa de baixo, manta
  • Dinheiro em espécie
  • Comunicação: lanterna, rádio a pilha, pilhas, apito, caderno, canetas (dependendo da gravidade da situação, o sistema de internet e telefonia pode ter interrupções, por isso temos que contar com os meios analógicos)
  • Diversos: sacos plásticos, talheres, isqueiro, fita adesiva
  • Cópias de documentos de identificação dos moradores

Visto que tenho um cachorro, as coisas dele também precisam estar na mochila de segurança (ou ter uma outra só dele):

  • Coleira
  • Ração (eu prefiro enlatada, que dura mais)
  • Potinhos para água e comida (usamos um dobrável de silicone pequeno)
  • Saquinhos para recolher as fezes
  • Manta

Além disso, é importante que o seu bichinho esteja sempre usando uma plaquinha de identificação com os contatos dos seus tutores, para aumentar as chances de recuperá-lo caso fuja ou se perda.

A cada 6 meses eu troco as comidas e bebidas da mochila, para garantir que tudo que está ali esteja na validade. Também lavo a toalha e a própria mochila, pois temos muita umidade aqui e sempre há o risco de algo mofar se ficar guardado por muito tempo.

O governo peruano também orienta ter uma caixa de reserva em casa, para situações mais prolongadas (vide links no final do texto para mais detalhes).

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Parte do que está na minha mochila de emergência – Imagem arquivo pessoal

Participe dos simulados

Os simulados são simulações de situações hipotéticas de emergência que ocorrem em dia e hora marcados para avaliar o nível de preparo da população e das autoridades. Além disso, melhoram a capacidade de resposta de todos diante de um evento de emergência real.

Muitos acidentes em situações reais de emergência ocorrem pela falta de preparo somados ao nervosismo e nível de stress gerados justamente por não saber o que fazer. Portanto, não subestime a utilidade dos simulados e participe sempre que possível. A repetição ajuda a fixarmos práticas importantes e a identificarmos maneiras de deixarmos nossos lares mais seguros.

O mesmo vale para os eventos reais. Depois da experiência que tive ontem, percebi que a coleira do Nhoque não fica em um lugar perto da porta, por exemplo. Se tivéssemos que sair as pressas, poderia não ter dado tempo de pegá-la. Então, já fizemos essa mudança para que fique próxima da porta.

Busque informação

As orientações para situações de terremotos podem variar de país a país, já que algumas dependem da infraestrutura oferecida em cada um deles. Por isso, se você vive em uma região pertencente ao cinturão de fogo do pacífico, procure informação nos sites das autoridades locais.

Links úteis para o Peru (em espanhol):

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Tatiana Roque

Nascida e criada em São Paulo dentro de uma família portuguesa, minha curiosidade me levou a viajar por muitos cantos do mundo. Só não sabia que em 2020 faria minha viagem mais transformadora: trocar as referências conhecidas no meio da pandemia de Covid-19 por uma nova vida em Lima, no Peru. Te convido a embarcar comigo nessa jornada de descoberta e autoconhecimento por esse país de belezas e contrastes.

Uma resposta

  1. Ter a informação é mesmo o nosso ponto de segurança. Parabéns pelo artigo e obrigada por dividir a sua experiência! <3

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