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Fases do choque cultural

Última atualização do post:

Paper cut of flags on grass for Soccer championship 2014
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Vivemos hoje em um mundo onde a migração é crescente e constante. E, isso se dá por vários motivos: trabalho, estudo, intercâmbio, qualidade de vida ou por amor. Mas, em todos esses casos o choque cultural sempre existirá.

Choque Cultural é um conjunto de ansiedade e sentimentos (de surpresa, desorientação, incerteza, confusão mental, etc) quando uma pessoa tem de conviver dentro em uma diferente e desconhecida cultura ou ambiente social”

A necessidade de se ajustar ao novo meio: cultura, nova língua, clima, estilo de vida e relacionamento interpessoal, tem um impacto emocional relevante na vida das pessoas.

E esse impacto tem sido tema de estudo por vários anos, sendo que em 1963 a Teoria de Gullahorn e Gullahorn chamada Curva W ganhou grande evidência no mundo, onde classificou as fases do choque cultural em 5 pontas dispostas em forma de W, considerando assim os altos e baixos emocionais de cada fase.

Então falarei dessas fases com base nas minhas experiências morando na Alemanha, onde passei por elas 2 vezes. A primeira quando cheguei na Alemanha em 2013 com o meu ex marido e a segunda vez em 2017 após a minha separação.

Lua de mel

Estamos movidos pela alegria, emoção, euforia e motivados a aprender e cooperar. Ainda não deu tempo de sentir saudades da sua vida anterior.

Eu aproveitei muito essa fase, minha curiosidade era imensa, queria explorar cada centímetro da minha nova cidade, os desafios diários eram divertidos e eu me sentia destemida diante deles. Outro ponto importante nessa fase foram as viagens, visitei cerca de 20 países em 2 anos, mesmo não falando nenhuma palavra de alemão e com inglês básico, me aventurei pelo mundo.

choque cultural
minha nova cidade Stuttgat Alemanha – arquivo pessoal

Choque cultural

Quando a novidade acaba e tudo vira rotina. Momento em que ‘a ficha cai’ e você nota que nem tudo é tão fácil quanto parecia no início.

A minha percepção de realidade começou quando vi que aprender a língua alemã não seria tão fácil e rápido quanto pensei. Pois o método de ensino alemão foi realmente um choque, me sentia pressionada e desmotivada a continuar estudando. Mesmo porque até essa fase minha vida girava totalmente em português em casa com meu ex marido e entre amigos brasileiros.

Mas após a minha separação me vi tendo que recomeçar, e o choque cultural foi gritante. Pois saí daquela cápsula onde me encontrava e comecei literalmente a viver a Alemanha.

Fui viver com uma família alemã e comecei a assistir TV aberta, ler os jornais da cidade, a compreender melhor as datas festivas nacionais e até mesmo a aprender algumas palavra no dialeto da região.

Fase de ajustes

E quando você já se sente mais confortável com a sua rotina e começa a sentir prazer nos seus afazeres e compromissos. Já se relaciona com mais pessoas e você já começa a ter mais familiaridade com a língua do lugar.

Nessa fase comecei a sentir as minhas primeiras evoluções com a língua, por exemplo ir sozinha ao médico ou marcar consultas pelo telefone. Foi também quando decidi encontrar meu primeiro trabalho, era um Minijob de 10 horas semanais. Foi um desafio e tanto, mas me sentia super preparada para isso.

2 anos após a minha separação, eu já havia aprimorado o meu inglês e alemão. Já estava trabalhando 30 horas por semana com um contrato fixo e encontrei um amor alemão. Esse foi então o momento que vi que fui capaz de superar muitos obstáculos e que estava no caminho certo.

Isolamento mental

Geralmente acontece após uma viagem ao país natal ou a visita de parentes, aflorando sentimentos, onde nos vemos divididos entre dois mundos totalmente diferentes.

Confesso que não tive grande impacto dessa fase vivendo na Alemanha. Claro que sinto saudades da família e amigos e da facilidade de viver na minha língua materna, eu até já disse inúmeras vezes que voltaria a morar no Brasil. Mas apenas mediante a circunstâncias realmente necessárias, por exemplo, após a minha separação considerei voltar para o Brasil. Mas foi aí que pensei em tudo que já tinha vivido até ali e tive a certeza que queria ficar.

Adaptação

É o momento em que realmente conseguimos enxergar o novo país como nosso lar, nos sentimos confortáveis ao voltar para casa e os novos costumes e hábitos já estão incorporados em nossa rotina.

Hoje, após todos os desafios que superei, após todas as minhas realizações e conquistas, me sinto adaptada e feliz por minhas escolhas.

Adaptada ao melhor da Cultura Alemã – arquivo pessoal

Tenho uma família que me adotou como filha aqui, meu namorado e estou começando um novo projeto de trabalho, onde com toda a minha experiência, quero ajudar outras mulheres em seus processos de adaptação. Claro que sei que ainda tem muita coisa por vir, mas também sei que agora consigo ver os caminhos com muito mais clareza e isso me traz muita segurança.

Não há como definir a duração de cada fase, é relativo de pessoa para pessoa. E há também a possibilidade de pular, regredir ou até mesmo repetir fases, tudo depende dos acontecimentos inesperados ou não na sua vida.

Mas a certeza que posso dar é a de que o mais importante é viver um dia de cada vez, estar sempre aberto para o novo, ter persistência, nunca esquecer a sua essência. E, nos momentos difíceis, lembre-se dos motivos que o fizeram a mudar de país e siga em frente!

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Camila Sales

Sou Camila Sales, coach de mudanças e adaptação entre culturas, com ênfase em psicologia positiva formada pela Sociedade Brasileira de Coaching com certificados em: Personal e Professional Coaching, Ferramentas do Coach e Coach Aplicado à Psicologia Positiva. Como mulher e ex expatriada, sei por experiência própria como é desgastante a adaptação à nova língua, cultura, relacionamentos com outras pessoas, rotina da nova casa, lidar com saudade da família e dos amigos, incerteza profissional (sendo esse para mim o mais impactante), o sentimento de dependência psicológica e financeira. E, após passar por todas essas fases, que levou 7 anos de mudança e adaptações, me vi tendo de recomeçar a minha vida sozinha, mas dessa vez utilizando todos os aprendizados adquiridos anteriormente.

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