Frederico sabe que a paternidade é um desafio imenso, especialmente no Brasil o desafio emocional de conseguir ser um pai amoroso é acrescido do financeiro. São suas essas palavras: “Eu costumo dizer que fazer filhos é um negócio que sob o aspecto financeiro seria inviável, mas que compensa cada gota de suor. Porque amor a gente não conta em centavos e não se mede em planos. ”
Mas, ao se tornar um expatriado o cenário era bem diferente e a família aumentou! Sarah ganhou finalmente sua irmãzinha, a Giulia já nasceu em terras italianas.
A todos os pais, em especial ao Frederico que gentilmente dividiu sua historia com nossos leitores, o nosso Feliz dia dos Pais!
Boa leitura!
IA- Frederico, poderia nos contar um pouco sobre você, onde nasceu, cresceu, o que estudou, onde já morou e o que gosta de fazer?
Me chamo Frederico Suzuki, sou brasileiro, paulistano nascido no bairro da Moóca e que passou boa parte da vida em Guarulhos, na Grande São Paulo. Fruto de uma mistura de imigrantes japoneses e espanhóis somados à um 25% de indefinido, que eu chamo de brasilidade… (risos).
Sempre morei em São Paulo, depois de casado, e antes de sair do Brasil, morávamos no bairro de Alphaville em Santana de Parnaíba. Sou formado em Ciências Contábeis e desenvolvo minha carreira na área administrativo-financeira. Tenho 41 anos, sou casado com a Patrícia e pai da Sarah (10) e da Giulia (2).
Desde 2017 moramos na Itália, na cidade de Sondrio, uma cidade no norte da Lombardia, situada no meio dos Alpes.
IA- Como vocês se sentiram ao engravidarem no Brasil e na Itália, foi diferente?
Foram momentos diferentes, mas ambos foram planejados.
Nós nos casamos em 2005 e esperamos mais de cinco anos para ter a Sarah. A gente gosta de viajar, conhecer lugares, restaurantes e, portanto, aproveitamos bastante a vida de “casal sem filhos”. Mas, aí chegou uma hora que faltava alguma coisa. Foi então que nos preparamos para a Sarah.
Estando no Brasil, especificamente em São Paulo, o custo de vida sempre foi uma preocupação. E de fato, a medida que as crianças crescem esses custos só aumentam. Impressionante considerar que no orçamento da classe média os maiores custos estão em torno de escola e saúde. Eu costumo dizer que fazer filhos é um negócio que sob o aspecto financeiro seria inviável, mas que compensa cada gota de suor. Porque amor a gente não conta em centavos e não se mede em planos.
Foi a nossa maior experiência de vida.
Muda tudo, vira de ponta cabeça, traz desafios, mas o amor cobre tudo. A gente sai diferente de como entrou, ou melhor, não sai, a gente sempre está passando por uma fase nova e segue aprendendo.
Minha esposa e eu não queríamos que a Sarah fosse filha única, isso era claro, mas por um tempo não conseguíamos enxergar como encaixar uma outra criança nas nossas vidas. Em Alphaville tinha até o “quarto do bebê”, que era o terceiro quarto do apartamento com todos os móveis da Sarah e que a gente conservava para o(a) irmãozinho(a). Mas, se passaram seis anos e a gente sempre postergava. Até que veio a expatriação para a Itália. Fui expatriado pela empresa, para trabalhar na subsidiária italiana. E tudo mudou. Sabe aquela história do custo de vida, escola, saúde? Aqui não tem. E aquela correria doida de São Paulo, os dois trabalhando, trânsito, violência? Isso também mudou. Era agora ou nunca, e aí com pouquíssimos meses de Itália engravidamos da Giulia.
IA- Qual a maior alegria e o desafio desse momento na vida de um homem expatriado?
No nosso caso, a gravidez da Giulia marcou o momento da mudança. Será que teríamos ela se continuássemos no Brasil? Tem quem diga que não. Pensar em ter filhos em um lugar tranquilo, onde a gente aprende a viver em segurança, além disso com custo de vida justo e, falando da Itália, onde se valoriza o “aproveitar a vida”, fez toda a diferença. A Sarah finalmente teria a sua irmãzinha! Incrível como o amor de pai e mãe não divide, só multiplica. Sabíamos no entanto, que seria desafiador passar por esse momento sozinhos, sem a família e a rede de apoio que tínhamos no Brasil.
IA- Os nascimentos aconteceram da forma e no lugar que vocês tinham imaginado no inicio da gravidez?
Mais ou menos. No caso da Sarah foi esquema plano de saúde empresarial, maternidade top que mais parecia um hotel. Esperamos para ter parto normal até o final, mas não rolou, então marcamos a cesárea. Tudo tranquilo, chegamos no horário, preparação, parto e quarto. Fiquei ali com a elas por alguns dias, acompanhei tudo de perto, inclusive o parto. Claro que fora o plano de saúde, tivemos pagar extra para a equipe médica. Custa, mas tivemos um parto tranquilo.
Já no caso da Giulia, tudo era novidade. Em primeiro lugar, não tinha mais a ginecologista obstetra que a Patty tinha de anos no Brasil.
O sistema de saúde público é bom, é completo, funciona, mas é sempre público. Ou seja, hospital com cara de hospital. Com direito a paredes verdes e tudo. Quarto? Compartilhado. Para ter um só para a gente deveria pagar à parte. E o que mais nos espantou foi que a médica que acompanhou a Patty durante todo o pré-natal não seria a mesma que faria o parto. Porque quem faz é a equipe que está de plantão no momento que você chega no hospital. Ou seja, chega lá nas últimas, e alguém que você nunca viu na vida é que faz o parto. Bem diferente da experiência da Sarah. Mas bora lá, esperamos até o limite, até que deu o tempo máximo e tivemos que ir pro hospital mesmo sem entrar em trabalho de parto.
Nossas duas filhas, tanto a Sarah, como a Giulia nasceram de cesárea. E aí tem uma diferença enorme entre Brasil e Itália. No Brasil é bem comum parto cesárea até por opção. Já aqui na Itália, é só em casos onde não tem opção. E é bem diferente do Brasil, desde o corte (enorme) e nenhuma preocupação com a cicatriz. E eu, não pude entrar na sala de parto, o que eles frisam bastante, durante a cirurgia. O pós operatório também foi bem diferente. Enquanto no Brasil, a mãe recebia doses cavalares de analgésico, aqui eles administram com remédio que a gente usa quando tem dor de cabeça. A regra é só dão algo mais forte se reclamar. A Patty nesse ponto passou um perrengue…
IA- Quais as vantagens de ter sido pai em vivendo na Itália? E as desvantagens?
Antes de ser expatriado a gente sempre teve vontade de morar fora. Poder fazer isso em família, proporcionar às nossas filhas uma vida onde elas tem contato com outra cultura, aprende outro idioma, poder ir sozinha para a escola, são coisas que a gente valoriza muito. Estar na Europa nos abre portas para conhecer mais países ainda e outras culturas à curtas distância. As desvantagens estão por conta da falta da família e dos amigos que a gente deixa no Brasil. Esse último ano em particular por causa da pandemia, aumentou ainda mais a distância. Mas agora depois de dois anos elas vão para lá visitar as vovós e os vovôs.
IA- Frederico, como é vivida a questão dos idiomas que os filhos aprendem? E de que forma são construídas as memorias afetivas das famílias de origem?
A Sarah chegou na Itália com 6 anos e falava muito bem português, mas saiu do Brasil antes da alfabetização. Ainda bem que por proximidade das línguas ela também aprendeu a ler em português, ainda que tenha alguma dificuldade para escrever por causa da pronúncia. Em casa falamos sempre português. A Giulia, por ir na escolinha, acaba falando mais italiano, ou seja, a gente fala em português e ela responde em italiano. Mas ela entende tudo, e sabe algumas palavras em português. Nós estamos participando de um projeto muito legal que se chama Clube Cafuné (Instagram @clubecafune) que une país que buscam ensinar o português como Língua de Herança e cultura brasileira. A gente também compra livros em português para a Sarah. A Patty está muito engajada nesse tema e estamos nos empenhando em ensinar não só a língua portuguesa mas também a nossa cultura.
IA- Quais as dicas mais importantes para o “pai expatriado”?
Uma coisa que aconteceu muito conosco nos primeiros anos de expatriação foi que nos unimos mais ainda. Chegar em um lugar desconhecido, sem conhecer ninguém, nos fez olhar para dentro de casa e viver muitos momentos em família.
A gente sempre teve uma vida social agitada no Brasil, com muitos amigos, festas, jantares. E aqui a gente se encontrou em uma situação diferente, “nós e nós mesmos”. Mas, para nós, foi um momento de resultado muito positivo. Acima de tudo, aprendemos a nos divertir juntos, curtir as coisas sempre com as meninas, e mesmo agora que já temos um círculo de amizades, a gente sabe se curtir. Isso é muito legal.
A minha dica é esteja preparado para isso. Se preparem, conversem, se alinhem. Estar juntos assim, potencializa nossas semelhanças mas também as diferenças entre o casal e entre os filhos. Morar fora é aprender que todos da casa devem botar a mão na massa, desde os pequenos até os grandes.
Tudo depende só da gente. Mas isso é ótimo, nos transforma em seres humanos muito melhores, diz Frederico.
Brasileira de alma e nascimento. Casada com Guillermo Henderson, uruguaio e meu parceiro de vida. Três filhos adultos e um netinho, minha filha Patrícia e mãe do Magnus na Suíça, Santiago no Canadá e Mathias em Dubai. Sou graduada em Sociologia e Direito pela PUCRS. Meu mantra é ” Vida Linda e Abençoada ! “
Respostas de 2
Adorei o conteúdo de toda entrevista. Feliz dia dos pais para esse marido e pai tão parceiro que temos em nossas vidas. Feliz dia dos pais para todos os pais!!
A história é linda mesmo! Parabéns !