Mudei para o Peru no meio da pandemia de Covid-19

Você mudaria de país quando:

1. Você pegou um filhote de cachorro para criar?
2. O mundo está tentando controlar uma pandemia de Covid-19?
3. O país que será seu destino teve 3 presidentes diferentes na semana que antecedeu a sua viagem?

No meu caso, todas as alternativas acima são verdadeiras.

Em novembro de 2020, desembarquei em Lima com Nhoque, meu cachorro, na época com 8 meses e quase 30 Kg. Pois meu marido havia aceitado uma proposta de trabalho aqui e havia chegado 2 semanas antes.

Por conta da pandemia, as fronteiras do Peru permaneceram fechadas por muitos meses em 2020. Ou seja, aceitei embarcar nessa nova vida de expatriada sem nunca ter estado no país antes. E mais: tivemos que nos preparar para essa mudança sem saber ao certo quando ela ocorreria.

Por mais que eu já tivesse visitado quase 30 países, essa era a primeira vez que eu estava deixando a minha cidade natal, São Paulo, para morar em outro lugar. Um lugar que não estava na minha lista.

O Peru que eu conheci antes de vir morar aqui foi apenas por vídeos do YouTube, comentários de conhecidos e programas da Netflix, já que as restrições da pandemia nos impediram de visitar Lima nessa época.

Planejando a viagem

Ah sim, uma semana antes da minha viagem, o presidente em exercício sofreu impeachment, o então presidente do congresso assumiu sua cadeira, mas renunciou poucos dias depois, após fortes protestos populares e a morte de dois jovens. Na sequência, um terceiro presidente “provisório” foi eleito até as eleições seguintes. Felizmente, quando cheguei aqui, a situação já estava controlada.

Por não termos a data certa de ida, o melhor que podíamos fazer era agir sobre aquilo que estava ao nosso alcance: Definir um cronograma tentativo e ir ajustando o planejamento conforme as notícias iam sendo divulgadas.

Ainda que não tivéssemos certeza da data de ida, a expectativa é que a situação estaria mais controlada em meados do 2º Semestre de 2020.

Com base nessa previsão, fomos dando andamento aos preparativos que tinham prazos maiores. Acompanhávamos de perto as notícias do Brasil e do Peru, para ajustar os planos se fosse necessário. Assim, quando os voos internacionais fossem liberados, estávamos prontos para fechar nossas malas e ir.

Retomar o estudo do espanhol

Se você está indo para um país que não conhece, estudar o idioma falado por lá é uma ótima porta de entrada para entender mais sobre ele.

Eu já tinha estudado espanhol no passado e logo que decidimos ir para o Peru eu retomei meus estudos através do Preply, que é um app que faz a interface entre interessados em aprender uma nova língua, com professores daquele idioma.

Escolhi uma professora peruana, para já ir me adaptando ao sotaque e conhecer mais da cultura local. A afinidade com a professora foi tanta, que nos conhecemos pessoalmente depois que cheguei aqui e ela se tornou minha primeira amiga em Lima.

Decidir o que levar e começar a doar ou vender o restante

Quando se é expatriado por uma empresa que custeia a mudança, podemos levar mais coisas conosco, mas essa é também uma ótima oportunidade para revisar o que não serve mais ou que não terá utilidade no país de destino.

No nosso caso, optamos por não levar boa parte dos eletrodomésticos que não eram bivolt, já que a voltagem de Lima (220V) é diferente da de São Paulo (110V). É relativamente fácil encontrar apartamentos equipados com linha branca (geladeira, fogão e máquina de lavar) para alugar nos principais bairros daqui. Trouxemos dois transformadores para usar os poucos itens 110V que vieram conosco, como o forno micro-ondas.

Fazer check-up médico enquanto o plano de saúde ainda é válido no Brasil

Para quem vai morar fora recomendo muito aproveitar os 2-3 meses que antecedem a viagem para fazer um check-up geral, concluir tratamentos médicos ou odontológicos que estejam em andamento, checar se precisa de prescrição para se abastecer de algum medicamento de uso contínuo, verificar lentes e óculos e vacinas, quando for o caso.

Eu aproveitei a vigência do meu plano de saúde para passar por todas essas etapas com antecedência e deixei o último mês para resolver os assuntos mais burocráticos, não-relacionados com saúde.

Digitalizar documentos importantes

Ter tudo digitalizado não só garante uma cópia de segurança, como também facilita o acesso pelo celular (se estiver arquivado online) para uma consulta rápida ou para dar entrada em algum trâmite no país de destino. Exemplos desses documentos: diplomas, contratos, declarações do imposto de renda, certidões, documentos pessoais.

Nesse processo eu descobri que, para os documentos pessoais, o governo brasileiro disponibiliza apps para gerar a versão digital da maioria deles, como RG, CPF, título de eleitor, entre outros. Ficou bem prático ter tudo no celular.

Verificar o trâmite para entrar com um animal de estimação em outro país

Isso vai desde checar se a companhia aérea pela qual você pretende viajar permite o transporte de pets e quais são as condições e preços, até preparar toda a documentação sanitária para autorizar a entrada do seu animalzinho no país de destino, como o CVI (Certificado Veterinário Internacional). Cada país tem as suas exigências e, em alguns casos, é necessário começar os preparativos com (bastante) antecedência.

Para mim, organizar a documentação para entrar com o Nhoque no Peru foi a parte mais simples. O desafiador mesmo foi a preparação minha e dele para que ele viajasse no bagageiro, pois seu peso ultrapassava o permitido para embarque e eu sofria só de pensar que eu ficaria 5 a 7 horas sem saber se ele estava bem. No final deu tudo certo, ufa! Eu aprendi muito com esse processo e vou compartilhar os detalhes em outro post.

Preparar o coração para se despedir de todas as pessoas queridas

Sim, vai dar saudade e para mim ela começou assim que a passagem de ida foi emitida. Se organizar para ter um tempo de qualidade para se despedir de quem torce por você dá um quentinho no coração!

Todo esse processo foi muito mais leve graças ao apoio dos familiares e amigos. Mesmo com todas as restrições impostas pela pandemia, se fizeram presentes das formas que eram possíveis, auxiliando e torcendo por nós.

Mal eu sabia que a aventura estava só começando, mas isso é assunto para o próximo post!

Tatiana Roque

Nascida e criada em São Paulo dentro de uma família portuguesa, minha curiosidade me levou a viajar por muitos cantos do mundo. Só não sabia que em 2020 faria minha viagem mais transformadora: trocar as referências conhecidas no meio da pandemia de Covid-19 por uma nova vida em Lima, no Peru. Te convido a embarcar comigo nessa jornada de descoberta e autoconhecimento por esse país de belezas e contrastes.