A solidão é uma coisa que nos acompanha em muitos momentos da nossa vida de expatriada. O vazio no peito e as saudades dos que ficam vai existir, principalmente nesta época do ano. Afinal, ao partirmos, deixamos uma grande parte (talvez a maior) do que somos para trás. Estar preparada para esses momentos é muito importante, mas como fazer?
Você vai ler e ouvir por aí vários conselhos, dicas, mas sinto em dizer que as recaídas serão inevitáveis.
Lembro-me do nosso primeiro Natal quando nos mudamos do Brasil, passamos a noite numa igreja, na missa, e depois viemos celebrar em casa, ou melhor, na casa provisória que estávamos. Não que tenha sido ruim, mas foi diferente.

Relembramos aqueles momentos de agitação, preparos de comidas, presentes e ansiedade por estar com a família, a decisão de quem ia ser o Papai Noel e passar uma noite agradável e divertida.
Gente, eu sinto saudades até das brigas, é sério!..rsrsrs
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As nossas três fases de celebração
Primeira fase
Na minha infância, passávamos o Natal em casa e a passagem do Ano Novo no Rio de Janeiro. Antes de sairmos, minha mãe varria a casa toda e todos nós tínhamos que estar do lado de fora esperando, pois com isso ela iria retirar todas as coisas ruins que aconteceram naquele ano e iniciar o novo com a casa limpa, que era sinal de sorte!
E a gente acreditava e obedecia..rsrsrs
Segunda fase
Já na minha adolescência, mudamos o ritual. Toda a família (irmãos, sobrinhos, cunhadas e cunhados) se reuniam na casa de uma das minhas irmãs. Mesa farta, cada um levava um prato e bebida e todos dormiam por lá; quer dizer, os fracos dormiam, porque os fortes ficavam dançando e se divertindo até o dia raiar.
À meia noite saíamos todos na rua, dávamos as mãos em círculo, fazíamos uma oração e cantávamos a famosa música: Adeus Ano Velho, feliz Ano Novo…era uma choradeira, abraços, contagem regressiva, enfim momentos que se eternizaram nas nossas lembranças.

Terceira fase
Quando meu pai faleceu, mudamos esse ritual e também todos foram ficando mais velhos, constituindo famílias. Chegou então a hora de dividir a passagem das datas: o Natal era com a família do Sid (meu marido) e, Ano Novo, com a minha família. E o Papai Noel começava a adentrar também em nossas vidas nessa época, pois aí já tínhamos filhos e queríamos que eles acreditassem nesse sonho.

Que saudade!! Todos temos uma história, uma lembrança.
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Fase atual: expatriados
Desde que mudamos, mantivemos nosso ritual: reflexões, amigo oculto, nossa ceia, o mais perto possível das comidas brasileiras e o nosso tradicional cartão de natal. Desde que nos tornamos expatriados, fazemos um resumo de como foi nosso ano, colocamos fotos e enviamos pelo correio para amigos pelo mundo e família.

Saudades dos que ficam
Pra finalizar, antes que eu chore – brincadeira! – ah tá bem, é sério 🙁, fiquei emotiva! Segue um depoimento da minha sogra, que também é minha segunda mãe, relatando a saudade que ela sente de nós:
“Ainda lembro quando vocês começaram a nos deixar para seguir a vida adiante em outro lugar. Lembro do Sid e do Felipe de terninho e gravata despedindo para seguir viagem e você já tinha ido ver casa. Iam para o Rio de Janeiro, mas doeu muito esta despedida.
Estava habituada a ver vocês toda semana, foi então que mais uma despedida apareceu. O Guth (o cachorrinho) ficou comigo em São Paulo e desta vez vocês foram ver casas nos Estados Unidos, e eu e o Toninho sentimos um vazio muito grande.
Foi muito difícil aceitar a mudança de vocês para o Rio de Janeiro que era “pertinho”, imagina indo para mais longe? Desta vez aceitar vê-los uma única vez no ano.
A dor de estar longe: um nasce e outro morre
A Julinha nasceu e a gente não estava lá para acompanhar o aumento da família. Aí então veio outra mudança de vocês para Inglaterra e a morte do Toninho. Mais um vazio e vocês estavam tão longe, e tinham acabado de passar férias com a gente.
Aí então veio a mudança para o Chile , e a esperança de ter vocês mais perto e assim, podendo ir e vir com mais facilidade. Mas durou pouco!
Então foi a vez de Dubai, mais uma vez distante sabendo que eu tinha que aceitar. A preocupação de você tendo que vir cuidar da tua mãe que infelizmente faleceu e a gente se sentindo impotente mais uma vez.
Diante de tantas partidas e da luta de vocês que admiro muito e por aqui ficamos sempre a espera. Sabe, Bell, te admiro muito como amiga, mulher, esposa e mãe e sei da tua luta e sei também que muitas vezes sentiu solidão longe dos familiares, mas admiro você que enfrenta tudo e tem a capacidade de começar tudo de novo. O Sid enfrenta a vida fora e você tem o dom de se fazer conhecida e em cada lugar e juntar-se sempre com outras famílias. Te amo e te respeito muito minha filha querida”.

Por Maria Alice
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Bell
Nascida em São Paulo, com coração carioca, sou louca para ter meus quadros pendurados na parede e não tirar mais, ao mesmo tempo, a ideia de recomeçar também me fascina, o novo sempre me empolga e dá um frio na barriga. Morei em 6 países, atualmente na Finlândia. Mãe da Juju e do Fe e casada com Sid.
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