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Tóquio: cidade de contrastes que preserva a harmonia

Última atualização do post:

Japão contrastes em harmonia
Homens aranha invadem as ruas de Shibuya em Tóquio - Imagem: Arquivo pessoal

Apesar de estar atualmente em Portugal, tenho muitas histórias e experiências ao longo dos 12 anos em que morei no Japão, observando os contrastes que existem e sobrevivem em total harmonia. Por isso, há sempre o que compartilhar com vocês sobre esse período da minha vida.

Os brasileiros que atravessaram o oceano em busca de novas oportunidades por aqui não utilizam muito comumente o termo expatriado. As pessoas com nacionalidades de países do Terceiro Mundo, são conhecidas no Japão como “dekasseguis”. Ou seja, trabalhador migrante. Já o termo “chuzaiin”, que na tradução direta seria expatriado, é utilizado para uma elite de pessoas que geralmente trabalham em escritórios nas grandes cidades. 

Assim, podemos perceber um pouco desses contrastes, e preconceitos talvez?! Mas isso é uma outra história que também compartilharei com vocês.

Retornando do Japão para o Brasil

Sinto-me privilegiada pois, após voltar do Japão para o Brasil em 2011, fui contratada como secretária executiva de uma multinacional de bebidas japonesas que havia adquirido uma grande cervejaria no país. Foi a fluência no idioma japonês, a experiência de ter trabalhado na área administrativa, bem como ser a pessoa que fazia a ponte entre os diretores japoneses expatriados e a diretoria do Brasil, o motivo para a minha contratação.

Nesse emprego tive a oportunidade de retornar duas vezes a trabalho para o Japão. Na última viagem em 2013, acompanhei um grupo de duzentos brasileiros, entre executivos e suas esposas, e os representantes da empresa. O objetivo era conhecer a matriz japonesa em Tóquio.

Viajando para Tóquio

A agência de turismo contratada para o evento nos ajudou com os intérpretes de japonês-português, sendo em sua maioria esposas de expatriados japoneses no Brasil. Elas me disseram que um grupo de turistas tão grande como aquele, só tinham visto quando o Corinthians foi jogar a final do Mundial de Clubes no ano anterior.

A saída do hotel, onde estávamos hospedados, era aquela confusão aos olhos dos discretos japoneses. Contrastes! Em todos os passeios que fazíamos sempre chamávamos muita atenção. Nos deslocávamos em ônibus modernos, mas em algumas ruas não se permitia a entrada desses veículos.

Então, tentem imaginar a plataforma da estação de Tóquio (uma das mais movimentadas do planeta) com 200 pessoas para embarcar no “shinkansen” (trem-bala) rumo à Yokohama?!Tinha que ser uma das últimas a embarcar e a desembarcar, para não perder ninguém no caminho. Além disso, tinha a pressão do som de apito do supervisor da estação para não atrasar o horário. A pontualidade japonesa é quase que britânica rsrs…

Japão contrastes em harmonia
Sensoji é um dos maiores templos budistas do Japão – Imagem: Arquivo Pessoal

Contrastes que não se chocam, mas não passam despercebidos

Um dos locais que mais chama a atenção com referência a estes contrastes é o bairro de Asakusa. Ao visitar o templo budista Sensoji já se pode observar a Tokyo Skytree. O antigo e o moderno convivem muito bem no mesmo espaço. Contrastes em harmonia, sem dúvida!

Sensoji é um dos maiores templos budistas do Japão e o mais antigo de Tóquio, e onde se cultua a divindade de Avalokitesvara. Vale lembrar que no Japão as duas religiões – xintoísmo e budismo, são praticadas quase que simultaneamente. Costuma-se casar em um santuário xintoísta, mas para agradecer o crescimento dos filhos, os casais comemoram o Shitigosan (cerimonia para comemorar os 3, 5 e 7 anos de uma criança) em um templo budista.

A torre mais alta de radiodifusão do Japão, a Tokyo Skytree, fica a menos de 2km de Sensoji, tem 634 metros, e é a segunda torre mais alta do mundo. Em dias de tempo claro é possível avistar do alto de um dos dois decks, não só toda a cidade, a Baía de Tóquio, como também o Monte Fuji

O elevador que dá acesso aos dois decks também é uma atração, pois é possivel com ele atingir os 400 metros de altura em menos de um minuto. É muito rápido a ponto de nos deixar surpresos ao sair do elevador e deparar com paredes de vidro de 5 metros de altura e de largura.

Contrastes em harmonia

Acredito que não há ninguém que não tenha se emocionado com o filme Hachiko com o ator Richard Gere. A história é verídica e o cão é tão querido, a ponto de ganhar uma estátua em homenagem à sua lealdade ao dono na estação de Shibuya.

Shibuya também é conhecida pelo mais famoso cruzamento de pedestres na avenida. São oito semáforos que abrem e fecham sincronizados. E é aí que se percebe o contraste entre o Japão tradicional e o Japão moderno. Senhoras vestidas de kimono, andando elegantemente com “gueta” (sandálias de madeira) em um cruzamento que é, ao mesmo tempo, rodeado de modernos prédios com anúncios luminosos de produtos da mais alta tecnologia.

Foi ainda nesse cruzamento que durante a nosso tour, vários homens aranha invadiram a rua e começaram a fazer uma perfomance entre os veículos.

Honrando a ancestralidade

Acredito que é honrando toda a nossa história ancestral o que possibilitou ao Japão atingir a prosperidade atual. Mesmo tendo sido derrotado na útima grande guerra e assolado com a explosão de duas bombas atômicas , este país literalmente se reergueu das cinzas. E diariamente ainda enfrenta o risco iminente de um grande terremoto, tsunami. Além disso segue como exemplo de país que não irá mais entrar em guerra.

Tanto os duzentos brasileiros que acompanhei, assim como eu, pudemos tirar desta viagem de contrastes e harmonias, um grande exemplo para a vida. Primeiramente, a busca por nos tornarmos mais resilientes, superando as dificuldades e mantendo a humildade! E finalmente estarmos sempre procurando ser a melhor versão de nós mesmos.

Para ler mais artigos da autora, confira aqui!

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Noemi Shigetomi

Artista plástica, escritora e instrutora de Yoga Tibetano. Morou por 12 anos no Japão trabalhando como tradutora-interprete e, após o tsunami de 2011, retornou ao Brasil. Em seguida, trabalhou como secretária-executiva da diretoria japonesa de uma grande multinacional do ramo de cervejas. Por isso, de cervejas, ela entende !!! Há 5 anos fez uma transição de carreira, deixando o mundo corporativo para trilhar o caminho das artes e do autoconhecimento, o que a levou a estar hoje em Portugal. Ela busca compartilhar suas experiências, mostrando com leveza que é possível encontrar o equilíbrio emocional através do desenho criativo e da pintura.

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