Saiba como estimar o custo de vida no exterior

Ao planejar uma mudança para outro país, um dos pontos importantes para tomar a decisão entre ficar ou ir, é estimar o custo de vida no exterior. Muda a moeda, mudam os impostos, muda o estilo de vida… Como chegar a uma conta que faça sentido para o seu caso?

O que funcionou para mim foi combinar informações externas com a minha realidade. Mesmo assim, depois de dois anos observando como a minha rotina e o estilo de vida mudaram, desde que saí de São Paulo, percebi que há coisas que só vamos ajustar e decidir – o quanto gastar – com a experiência.

Para avaliar o custo de vida quando deixamos um país e chegamos a outro, há a tendência de comparar o tipo de vida que temos hoje e achar que vamos apenas mudar de país e manter a mesma rotina, ter os mesmos interesses, etc. No entanto, o clima, a cultura e a infraestrutura da cidade e país acabam por moldar nossas necessidades e interferir no nosso orçamento.

Moeda e situação econômica

Para mim, o ponto de partida para quem vai deixar o Brasil é entender quanto vale o Real comparado com a moeda do país de destino. Isso porque, os primeiros meses (às vezes mais) serão bancados pela sua reserva em Reais, que pode evaporar se as despesas forem em moedas mais fortes, como a Libra Esterlina, atualmente a quinta moeda mais cara do mundo. Ainda que você esteja se mudando com a garantia de um emprego ou bolsa de estudos, tenha em mente que leva algum tempo até você se regularizar como cidadão local e poder abrir uma conta bancária, por exemplo. Até lá, serão seus Reais convertidos na moeda local que custearão suas despesas.

Isso nos leva ao ponto seguinte, que é pesquisar sobre a situação socioeconômica do país. Nem todas as informações são fáceis de encontrar, mas você pode começar sua pesquisa pelo site oficial do governo local ou da embaixada do Brasil naquele país. Além deles, o site Países, do IBGE, consolida dados de fontes oficiais sobre 193 países, permitindo comparar informações de até cinco nações ao mesmo tempo.

Estilo de vida

O entendimento de qualidade de vida é bastante subjetivo e pode variar inclusive ao longo dos anos, de acordo com nossas experiências, condições de saúde e finanças. Por isso, listei perguntas que possam te ajudar a refletir sobre as suas prioridades. Recomendo que você pegue papel e caneta para responder honestamente cada uma delas.

Objetivos

1. Quais são os seus objetivos nessa mudança de país?
2. O que é qualidade de vida para você?
3. Quanto do seu orçamento você está disposto a investir nesse objetivo?

Moradia

1. O que é morar bem para você? Liste em ordem de prioridade.
2. Quais bairros atendem melhor esses requisitos?
3. Quais são os gastos envolvidos?
4. Caso não se adapte ao local escolhido, quais seriam os inconvenientes de uma nova mudança?

Morar bem para você pode ser viver a poucos quilômetros do trabalho ou da escola, estar perto de facilidades comerciais, como mercados e farmácias, ou o contrário, viver longe das aglomerações e, quem sabe, ter uma casa maior. Porém, dificilmente você vai encontrar todos esses atributos em um só lugar e dentro do seu orçamento. Por isso, é importante ter bastante clareza de qual é a prioridade da família, pois isso vai guiar as decisões do valor a ser investido em moradia. Sair procurando “um lar para chamar de seu” antes de fazer esse exercício, pode ser desperdício de tempo e energia.

Veja o meu exemplo: Lima é uma cidade de bastante trânsito. Por isso, logo que chegamos aqui, buscamos morar em um bairro próximo ao trabalho do meu marido, que foi o motivador dessa mudança de país. Oito meses depois, percebemos que a alta umidade no apartamento estava prejudicando nossa saúde e nos mudamos para outro lugar, mas não conseguimos escapar da multa por terminar o contrato de aluguel antes do acordo de um ano.

Se você está buscando apartamento em Lima, confira algumas dicas aqui.

Transporte

1. Quais serão as principais distâncias a serem percorridas?
2. Preciso considerar algo ou alguém extra no meu deslocamento? Exemplo: equipamentos pesados, bebês, animais de estimação, etc.
3. Há necessidade ou desejo de ter meu próprio meio de locomoção ou o transporte público será suficiente?
4. Quais são os gastos envolvidos?

Em São Paulo eu tinha um carro e passava muito tempo nos deslocamentos de casa para o trabalho. Então eu tinha gastos com gasolina, manutenção, IPVA e seguro. Já aqui em Lima, minha rotina atual é bem diferente. Estudo e trabalho em home office, a cidade é menor e totalmente plana. Ou seja, aqui uso Uber para distâncias mais longas e todo o restante faço a pé, principalmente distâncias entre 2km e 3km. Assim, ao invés de dois carros, temos apenas o do meu marido, útil para lidar com o item 2 da lista acima: transporte do Nhoque, nosso Golden Retriever de 40 kg!

Outros itens que devem entrar na conta

Alimentação: Quanto da alimentação será dentro e fora de casa? Há restrições alimentares? Em alguns países, manter um estilo de alimentação diferente do padrão local pode exigir um investimento maior nessa categoria, seja porque a oferta é pequena, seja porque são itens importados.

Brasil: Com que frequência você pretende voltar ao Brasil? Muita gente esquece de colocar essa verba na conta. Sugiro estimar o valor da passagem aérea com uma margem de 20% pelo menos. Aqui no Peru, por exemplo, existe apenas uma companhia aérea com voos diretos para São Paulo e o preço médio de uma passagem é o dobro do que custava dois anos atrás, antes da pandemia.

Cuidados pessoais: Quais são os seus investimentos em cuidados pessoais? Vale analisar desde a frequência com que você compra roupas e sapatos até gastos com cosméticos e tratamentos estéticos. Isso pode ser bem variável, dependendo das características do clima e rotinas do país em que você esteja morando.

Educação e idiomas: Será necessário investimentos em educação ou estudo de idiomas para algum membro da família?

Lazer: O que é lazer para você? Você tem algum hobby? Quanto custa manter esse hobby no país de destino?

Saúde: Usar o sistema público ou investir em um seguro saúde? Quem está expatriado por alguma empresa pode ter direito a alguma cobertura. O seguro saúde que usamos aqui custeia um percentual do valor das consultas e exames, mas não 100%. A vantagem é que ele cobre também parte dos gastos com medicamentos, quando adquiridos na mesma clínica onde foi a consulta.

Links úteis para consultar o custo de vida no exterior

Expatistan: plataforma colaborativa para comparar o custo de vida entre cidades ou países, tem calculadora de salários e link para pesquisar escolas internacionais pelo mundo.

Numbeo: outra base de dados colaborativa com informações sobre custo de vida, qualidade de vida e preços de imóveis para mais de 11 mil cidades do mundo.

Textos de outras colaboradoras do blog sobre custo de vida na Costa Rica, nas Filipinas, na Noruega e na Europa.

Espero que esse artigo tenha te ajudado a fazer sua estimativa financeira. Esses são os blocos principais de despesas mais comuns, mas você pode localizar na sua rotina atual outros gastos recorrentes, que podem continuar ou não depois que você for morar fora. Mesmo assim, prepare-se! Há coisas que você só vai descobrir depois que já tiver se mudado. Esteja flexível às adaptações.

Tatiana Roque

Nascida e criada em São Paulo dentro de uma família portuguesa, minha curiosidade me levou a viajar por muitos cantos do mundo. Só não sabia que em 2020 faria minha viagem mais transformadora: trocar as referências conhecidas no meio da pandemia de Covid-19 por uma nova vida em Lima, no Peru. Te convido a embarcar comigo nessa jornada de descoberta e autoconhecimento por esse país de belezas e contrastes.